Nota do editor: Este é um artigo traduzido e adaptado de um originalmente publicado em inglês no ThinkLandscape do Global Landscapes Forum, escrito por Sara Mancinelli.
O que vem à sua mente quando ouve a palavra floresta? Provavelmente depende de onde você está no mundo. Talvez seja uma paisagem verde, úmida e densa como as florestas do Congo africano; os pinheiros nevados da Finlândia na Europa ou as copas elevadas e enevoadas da grande floresta amazônica na América do Sul.
As florestas são geralmente entendidas como “uma vasta extensão de terra coberta por árvores e plantas”. Mas na realidade, existem centenas de definições utilizadas por governos, cientistas e organizações, baseadas em aspectos que vão desde o uso do solo e a altura das árvores até a densidade do dossel, a mistura de espécies e o status legal. E essas distinções importam, pois determinam como medimos as florestas, reconhecemos o que foi perdido e abordamos sua gestão.
Um padrão amplamente aceito vem da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), que classifica as florestas em quatro zonas ecológicas principais: tropicais, subtropicais, temperadas e boreais, cada uma com paisagens e formas de vida únicas.
E em todas essas definições e zonas climáticas, existe um denominador comum que não é exatamente positivo: estamos perdendo as florestas do mundo a um ritmo alarmante. Atualmente, as florestas cobrem pouco menos de 30% da terra habitável do planeta. Embora possa parecer muito, esse número está em queda constante.
Ao final da última era glacial, há 10.000 anos, as florestas cobriam 57% da terra habitável – aproximadamente 6 bilhões de hectares. Hoje, restam apenas 4 bilhões, o que significa que perdemos um terço das florestas da Terra – o equivalente ao dobro da área dos Estados Unidos.
E metade dessa perda ocorreu apenas no último século, igualando o desmatamento dos 9.000 anos anteriores combinados. Acredite ou não, a principal causa não é a expansão urbana – as cidades ocupam apenas 1% da terra habitável – mas sim nossos sistemas alimentares, incluindo agricultura e pecuária.
Globalmente, desmatamos cerca de 10 milhões de hectares por ano – uma área do tamanho da Coreia do Sul.
A boa notícia é que cerca de metade desse desmatamento é compensada pela regeneração natural. Assim, no total, perdemos cerca de 5 milhões de hectares por ano. A má notícia é que 95% do desmatamento ocorre nos trópicos, onde as florestas abrigam uma vasta biodiversidade e sistemas de vida milenares.
Não há dúvida de que as florestas importam. E, entre as boas notícias, podemos ver que, após décadas de pesquisa e incidência política, elas estão finalmente sendo reconhecidas como prioritárias nas soluções para os desafios globais enfrentados pelo planeta. As florestas não apenas regulam o clima, purificam o ar e a água, e abrigam mais de dois terços de todas as plantas e animais terrestres – elas são essencialmente vitais para a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo.
E aqueles que as protegem não defendem apenas paisagens – eles defendem nosso futuro coletivo.
De líderes indígenas e guardiões locais a cientistas e formuladores de políticas públicas, apresentamos a seguir 10 heróis das florestas que estão protegendo esses ecossistemas essenciais e insubstituíveis de diferentes frentes.
1. Célia Xakriabá
Célia Xakriabá é professora e ativista indígena do povo Xakriabá, no estado de Minas Gerais, Brasil. Em 2022, tornou-se a primeira mulher indígena eleita deputada federal por Minas Gerais. Ela integra a Articulação Rosalino Gomes e é cofundadora da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA). Célia defende ativamente a prevenção do desmatamento e a restauração das paisagens perdidas, com ênfase no papel dos Povos Indígenas como guardiões das florestas:“Um cocar [indígena] nas tomadas de decisão é uma floresta em pé”.
2. Shaik Imran
Shaik Imran Hussain Choudhary é jovem agricultor e fundador da Prakheti Agrologics, uma startup de agroecologia focada na promoção da agrobiodiversidade, agricultura sustentável e restauração de terras na Índia. Seu trabalho conecta restauração ecológica à sustentabilidade econômica, ajudando pequenos agricultores a se adaptarem à crise climática enquanto preservam a biodiversidade. É bolsista do GLF 2025, consultor juvenil da YOUNGO junto à FAO e membro da YPARD e do comitê diretivo do Youth Food Lab do Fórum Mundial da Alimentação: “Viajar pelo sul da Índia e trabalhar em fazendas me fez perceber o quão rapidamente a agrobiodiversidade está diminuindo, e como a segurança alimentar muitas vezes é alcançada às custas dos meios de vida dos agricultores. Estou comprometido em construir ecossistemas que apoiem coletivos de agricultores, permitindo uma transição justa para métodos agrícolas sustentáveis que restaurem a biodiversidade e aumentem a renda.”
3. Alice de Moraes Amorim Vogas
Alice é uma ativista apaixonada pela ação climática no Brasil e no mundo. Atualmente lidera a Unidade Extraordinária de Assessoria para a COP30 no Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil. Tem mais de uma década de experiência em desenvolvimento sustentável e internacional, atuando com sociedade civil, academia e filantropia. Foi bolsista Humboldt, líder climática na WINGS, diretora de parcerias no iCS e presidente da Foundations 20: “Quando falamos em ‘dar o exemplo’ ou ‘falar com ações’ na agenda climática, estamos falando de arregaçar as mangas e dar o melhor de nós pelo bem comum. Deixei uma carreira em direito e finanças porque entendi que precisava fazer mais pela urgente ação climática que devemos mobilizar.”
4. Juliette Biao
Juliette Biao Koudenoukpo é diretora do Secretariado do Fórum das Nações Unidas sobre Florestas (UNFFS). Com mais de 30 anos de experiência em desenvolvimento internacional na África, América Latina e Canadá, foca em sustentabilidade ambiental, meios de vida comunitários e igualdade de gênero.
Foi a primeira mulher engenheira florestal da África Ocidental, promovendo a gestão participativa de áreas protegidas. Liderou programas no PNUMA, Crossroads International, CECI e UICN. Em seu país natal, Benin, foi ministra do meio ambiente e ministra interina da família e da infância: “O tempo de agir é agora. Este planeta é único e indivisível – não temos outro. Cooperar é imperativo e a coordenação intersetorial é essencial para a gestão eficaz dos recursos naturais.”
5. Johan Rockström
Johan é diretor do Instituto de Pesquisa sobre Impacto Climático de Potsdam e professor de ciências do sistema terrestre. Reconhecido internacionalmente por seu trabalho sobre sustentabilidade global e uso dos recursos do planeta. Liderou o desenvolvimento do conceito de limites planetários e tem mais de 150 publicações científicas sobre água, gestão territorial e sustentabilidade: “Não se trata apenas de inventar novas soluções, mas de transformar nossa relação com o planeta. Precisamos passar de um paradigma de exploração para um de gestão responsável.”
6. Éliane Ubalijoro
É CEO do CIFOR-ICRAF e diretora-geral do ICRAF. Líder com formação em agricultura e genética molecular, tem sido reconhecida por sua inovação, equidade de gênero e liderança sustentável.
É professora na McGill desde 2008 e integra vários conselhos consultivos, incluindo o Conselho Presidencial de Ruanda e a Coalizão de Capitais: “As árvores são algumas das pontes mais importantes para um futuro com clima estável em um planeta habitável.”
7. Subhra Bhattacharjee
Diretora-geral do Conselho de Manejo Florestal (FSC), Subhra é especialista florestal com mais de 23 anos de experiência em desenvolvimento sustentável. Atuou em bancos centrais, academia e ONU, em países como Bahrein, Alemanha, Palestina, EUA, Índia e Bangladesh. No FSC, trabalha para ampliar soluções baseadas em florestas para combater a degradação: “Precisamos agir com urgência para mitigar as crises globais do clima e da biodiversidade. A conservação, restauração e uso sustentável das florestas com respeito às comunidades que delas dependem é essencial para isso.”
8. Caroline Busse
Cientista de dados espaciais com experiência em conservação da natureza e monitoramento do uso da terra. Trabalhou no WWF, iDiv, Celonis e Deloitte. É cofundadora e diretora da Nadar, empresa de análise satelital que ajuda empresas a medir impactos de carbono e garantir cadeias de suprimento livres de desmatamento: “O sensoriamento remoto e os dados de satélite são fundamentais para promover autenticidade, qualidade e confiança no mercado de carbono.”
9. Hege Ragnhildstveit
Hege é diretora interina e assessora principal da Iniciativa Internacional sobre Clima e Florestas da Noruega (NICFI). Com mais de 20 anos de experiência em proteção florestal, governança e direitos indígenas. Trabalhou com Brasil, Indonésia, Guiana e Etiópia em seus planos nacionais de desmatamento zero e crescimento verde. Preside o Comitê de Programas do Fórum de Florestas Tropicais de Oslo: “É necessário um esforço global dos países e investidores no REDD+ para promover abordagens jurisdicionais, canalizando pagamentos por créditos de carbono para jurisdições que demonstrem redução do desmatamento em todo o território, com estratégias inclusivas e repartição justa de benefícios.”
10. Garo Batmanian
Biólogo e ecologista brasileiro com mais de 30 anos de experiência em conservação de recursos naturais. Desde 2023, lidera o Serviço Florestal Brasileiro. Impulsionou iniciativas como o Mecanismo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), fundo global de US$ 125 bilhões para proteger florestas tropicais em mais de 80 países: “A inteligência artificial poderá nos ajudar a prever como será o clima de um local dentro de 30 anos […] e precisamos planejar as espécies que serão plantadas pensando nesse futuro, nos impactos e nas mudanças climáticas.”
Quer conhecer mais heróis das florestas?
A próxima década será crucial para o futuro das nossas florestas. Por isso, o CIFOR-ICRAF e o Global Landscapes Forum estão organizando o evento GLF Forests 2025, que reunirá esses e outros heróis para explorar como podemos salvá-las antes que seja tarde demais.
Junte-se nos dias 24 e 25 de abril, online ou em Bonn, Alemanha, com mais de 1.600 especialistas, cientistas, formuladores de políticas e líderes comunitários de todo o mundo, para traçarmos juntos os caminhos para um futuro florestal resiliente, produtivo e justo.
Antes da COP30, vamos discutir quais ações concretas são necessárias durante a próxima década para proteger as florestas do mundo, com base em 30 anos de pesquisa do CIFOR-ICRAF.
A participação online no GLF Forests 2025 é gratuita. Garanta sua entrada aqui.



















