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O que as mulheres rurais da Amazônia pensam sobre mudanças climáticas?

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Pesquisa do CIFOR-ICRAF revela os impactos socioeconômicos sobre as vidas de mulheres no Brasil
Sekarang saatnya bagi kita untuk berpikir lebih jauh. Sekarang saatnya bagi kita untuk memikirkan sebuah cara baru yang imaginatif untuk menyelesaikan berbagai tantangan monumental yang kita hadapi sekarang maupun di masa yang akan datang. Foto oleh World Economic Forum/Sebastian Derungs

“Para mudar a sociedade do jeito que a gente quer: participando, sem medo de ser mulher!” é um refrão de um canto entoado por movimentos sociais de mulheres no Brasil, que ecoou repetidamente durante o diálogo “Mulheres Rurais e Resiliência Climática: Construindo alternativas para um Futuro Sustentável”, realizado pelo CIFOR-ICRAF em Belém do Pará. 

No encontro, 52 lideranças femininas, representantes de todas as regiões do estado do Pará e de outros dois estados da Amazônia, compartilharam experiências sobre como os impactos da crise climática já afetam suas vidas e territórios. O Pará é um estado com mais de 8 milhões de habitantes distribuídos entre seis mesorregiões. Tão diverso quanto extenso, o estado convive com diferentes realidades territoriais, culturais e ambientais. 

As mulheres que vivem em contextos rurais do Pará são um grupo diverso, cujas atividades produtivas incluem agricultura, extrativismo, pesca, produção de artesanatos, entre outros. São indígenas, quilombolas, ribeirinhas, assentadas da reforma agrária, extrativistas, artesãs. Embora a diversidade racial e cultural seja uma característica do grupo, essas mulheres têm algo em comum: todas reconhecem que as mudanças climáticas já são sentidas em seus cotidianos. 

Embora a palavra resiliência seja pouco usada em seu dia a dia, as mulheres a definem como “se reinventar e se adaptar”, uma prática constante em seus cotidianos. Entre as principais soluções apontadas para se adaptar à crise climática na prática, o grupo destaca a adoção de Sistemas Agroflorestais como método de plantio que valoriza a biodiversidade; o fortalecimento da participação em espaços de governança política, como os Conselhos de meio ambiente e a formação de jovens para a permanência no campo. 

“Quando se iniciou o debate sobre mudanças climáticas, a conversa era muito centrada na ciência, como se só os cientistas pudessem falar sobre isso”, afirma Joci Aguiar, representante do Ministério de Mulheres do Governo brasileiro. “Hoje sabemos que os impactos atingem a todos, mas de forma desigual. E sabemos quem são as mais prejudicadas”, explica. 

Barreiras à participação 

Apesar das propostas, ainda há desafios significativos para que mulheres tenham voz real nas decisões sobre clima. Uma revisão bibliográfica recente conduzida pelo CIFOR-ICRAF, analisou 34 documentos publicados entre 2019 e 2025. O estudo “A participação de jovens e mulheres no processo de tomada de decisão na governança climática e mecanismos centrais para maior inclusão”, identificou duas barreiras principais:  

  1. Financeiras e logísticas: a falta de recursos para à participação feminina, alem de dificuldades com vistos e credenciamentos, tornam sua participação frágil e descontínua; 
  2. Institucionais: a falta de assentos formais em comitês, conselhos ou mesmo na elaboração das metas de mitigação das mudanças climáticas mantém mulheres em periferias decisórias, sem poder deliberativo real. 

Segundo a análise, a inclusão genuína de mulheres e jovens na governança climática requer mais do que reconhecimento simbólico: requer redistribuição de poder, acesso a recursos e valorização de diferentes saberes para construir uma governança climática mais justa e eficaz.  

“Somente combinando representação institucional, acesso estável a recursos e valorização de saberes diversificados poderemos transformá-los em sujeitos políticos plenos e avançar rumo a uma governança climática mais justa, diversa e eficaz”, cita o estudo, cuja publicação está prevista para o final deste ano.  

Caminhos para a COP30 

A COP30 também é um tema relevante para as mulheres rurais da Amazônia brasileira. Embora esteja comprovado que mulheres enfrentam uma sobrecarga de tarefas domésticas e de cuidado que dificultam sua participação política, eventos como a Convenção do Clima não deixam de fazer parte do horizonte de soluções para este grupo social. 

Durante o diálogo Mulheres Rurais e Resiliência Climática, as participantes destacaram a necessidade de uma organização coletiva prévia, por meio de documentos, manifestos e expressões culturais que contemplem suas especificidades e demandas. 

“Como vamos fazer incidência política em nossos territórios? Através das nossas organizações. Se organizando, debatendo, estudando e buscando a ciência”, afirma Ângela de Jesus, Diretora da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultoras e Agricultores Familiares do Estado do Pará (FETAGRI-PA). 

Para Luzia Mendes, representante da Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará-Malungu, apenas discursos não bastam: “Precisamos nos organizar com documentações, porque apenas a fala não garante que a nossa voz seja ouvida”, reflete.  

Entre os caminhos citados estão a bioeconomia, o turismo de base comunitária e as soluções agroflorestais, sempre vinculados à ação política contínua. “O processo político é o caminho para nós sermos ouvidas e isso é muito anterior à COP e permanece depois da COP, também. É transversal”, resume Lívia Navegantes, professora do Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares. 

Além disso, a comunicação estratégica surge como ferramenta para a questão da visibilidade feminina nesse contexto das negociações climáticas: desde materiais de impacto até performances culturais e parcerias com ativistas e artistas internacionais. 

“A pesquisa e o seminário evidenciam os impactos significativos das mudanças climáticas sobre o contexto socioeconômico das mulheres. Mas elas estão inovando em suas práticas e persistindo, mesmo com as barreiras de desigualdade de gênero”, avalia Denyse Mello, coordenadora de Gênero e Inclusão Social do CIFOR-ICRAF no Brasil. 

Para obter mais informações sobre este assunto, entre em contato com Denyse Mello emd.mello@cifor-icraf.org