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Por que as ações climáticas e o financiamento devem funcionar para as comunidades e o planeta

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A nova líder climática Beria Leimona compartilha como as soluções em escala de paisagem, o financiamento equitativo e o conhecimento local podem impulsionar a resiliência climática duradoura.
Beria Leimona. Foto de Aris Sanjaya / CIFOR-ICRAF

“Minha visão para a açãoclimática é um mundoem que a ciência, a política e o conhecimento local convergem para criarpaisagenssustentáveis e resilientes.. 

Enquantooslíderesmundiais se preparam para a COP30 em Belém, Brasil, surgemdúvidassobrecomofinanciaraçõesclimáticaseficazes e equitativas, principalmenteempaísesonde a governançaflorestal é frágil e osdireitos à terra permanecemobscuros 

Para Beria Leimona, recém-nomeada líder temática para Mudanças Climáticas, Energia e Desenvolvimento de Baixo Carbono no Centro de Pesquisa Florestal Internacional e Centro Internacional de Pesquisa Agroflorestal (CIFOR-ICRAF), a resposta não está apenas nos fluxos financeiros globais, mas em como esses fundos se traduzem no território.  

Leimona, uma especialista experiente em serviços ecossistêmicos e finanças sustentáveis, passou mais de duas décadas liderando pesquisas aplicadas em toda a Ásia. Nesta entrevista, ela compartilha porque as soluções em escala de paisagem, as estratégias financeiras inclusivas e as reformas de políticas que refletem o conhecimento local serão decisivas para a resposta climática global.  

Vocêassumiurecentementesua nova função no CIFOR-ICRAF. O que aatraiu para esse cargo e o que maisaentusiasma?

O que me motiva é ver como a ciência pode criar impacto no mundo real, quando as comunidades adotam inovações, adaptam-nas ao seu contexto e as dimensionam em seus próprios termos. É aí que a ciência se torna transformação.  

No CIFOR-ICRAF, trabalhamos diretamente com os atores locais, desenvolvendo em conjunto soluções baseadas em evidências, mas que atendem às necessidades locais. Essa combinação é o que me entusiasma – ciência que não fica no papel, mas molda a política e apoia as pessoas no campo.  

Vocêpassoumais de 20 anostrabalhando com questõesclimáticas e ambientais. O que maismoldousuaabordagem 

Grande parte do meu trabalho tem se concentrado na elaboração de sistemas de pagamento por serviços ambientais (PES, na sigla em inglês) em condições reais e desafiadoras, onde a governança é fraca, a posse da terra é incerta e os dados são limitados. Esses são cenários complexos, mas também onde o trabalho mais urgente é necessário.  

Minha motivação é encontrar maneiras de tornar esses sistemas não apenas eficientes, mas também justos para os pequenos proprietários, que geralmente são os principais administradores de nossas paisagens. Isso significa desenvolver mecanismos de incentivo que reflitam as condições do mundo real e sejam viáveis a longo prazo, tanto ecológica quanto economicamente.  

Qualpapelvocê o CIFOR-ICRAF desempenhandonaresposta global àsmudançasclimáticas, especialmente no que dizrespeitoàsflorestas 

As florestas e os sistemas agroflorestais são fundamentais para qualquer estratégia climática eficaz. No CIFOR-ICRAF, nosso foco é promover soluções baseadas na natureza que reduzam as emissões, criem resiliência e apoiem os meios de subsistência.  

Trabalhamos com governos, empresas e comunidades para desenvolver estratégias de investimento inclusivas – que garantam que grupos vulneráveis, mulheres e Povos Indígenas não sejam deixados para trás. Nossa ciência ajuda a informar políticas que tornam o financiamento climático mais inteligente, mais verde e mais equitativo.

A COP30 serárealizadaem Belém, Brasil, no coração da Amazônia. O que tornaessemomentosignificativo

É extremamente simbólico e estratégico. A realização da COP30 na Amazônia destaca os países ricos em florestas e a importância global de seus ecossistemas. Mas o simbolismo não é suficiente.  

Estamos enfrentando um cenário geopolítico em que os interesses de curto prazo geralmente se sobrepõem à sustentabilidade. Conforme apontado pelo PNUMA, quase US$ 7 trilhões por ano ainda são destinados a atividades que prejudicam a natureza. Na COP30, o CIFOR-ICRAF defenderá um investimento mais forte em soluções e políticas baseadas na natureza que promovam uma mudança significativa em direção à resiliência e à equidade de longo prazo.  

Quais sãoosdesafiosmaisurgentes para lidar com as mudançasclimáticasatualmente 

Um dos maioresproblemas é o subfinanciamento da açãoclimática, especialmentequando se trata de soluçõeslocais. Mesmoquando o financiamentoestádisponível, muitasvezeselenão se alinha com as prioridadeslocaisousimplesmentenãochegaao local.  

Outro desafio é que as mudançasclimáticasnãosãouniformes. Cada regiãoenfrentariscosdiferentes, e nãoexisteumasoluçãoúnica para todos. Precisamos de abordagensemescala de paisagem que integremmitigação, adaptação e biodiversidade e que reflitam as realidadesvividaspelaspessoas que gerenciamessaspaisagens.  

Quaistipos de soluçõeslhedãoesperança 

Acredito em abordagens integradas – soluções que combinam ciência, política e conhecimento local. Estamos vendo sucesso quando as comunidades co-desenvolvem ações climáticas que podem ser adaptadas e assumidas por elas.  

Além disso, sinto-me encorajada pelo crescente impulso em torno do financiamento ecológico – não apenas aumentando-o, mas tornando-o mais eficaz. Quando as políticas criam os incentivos certos, quando os governos fornecem as estruturas certas e quando as comunidades são capacitadas para agir, vemos um impacto escalável e duradouro.

Olhando para o futuro, qual é a suavisão para a açãoclimática 

Minha visão é de um mundo em que a ciência, as políticas e as ações locais trabalhem juntas para criar paisagens resilientes e sustentáveis. Precisamos ir além do pensamento em silos e adotar soluções que abordem o clima, a biodiversidade e os meios de subsistência em conjunto.  

Isso significa incluir metas climáticas e de biodiversidade na legislação, elaborar estratégias claras de implementação e mobilizar investimentos públicos e privados de forma inclusiva e responsável. Os governos devem liderar, mas as comunidades e as empresas devem ser capacitadas para agir.  

Com a aproximação da COP30, que mensagemvocêgostaria de compartilhar?  

A crise climática está se intensificando e estamos ficando sem tempo. Mas também temos soluções que funcionam – soluções enraizadas nas florestas, nas agroflorestas e no conhecimento das pessoas que vivem mais perto da natureza.  

No CIFOR-ICRAF, temos o compromisso de transformar a ciência em ação. Isso significa trabalhar em várias disciplinas, investir na liderança local e garantir que as finanças atendam às pessoas e aos ecossistemas que mais precisam delas. Esse é o caminho para uma transição justa e verde – e precisamos trilhá-lo juntos.