No dia 29 de setembro, no auditório do WWF-Brasil, em Brasília (DF), foi realizado o encontro Diálogos sobre o financiamento da conservação do Cerrado. Promovido pelo CIFOR-ICRAF no Brasil, o evento reuniu representantes do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), além de organizações internacionais e não-governamentais para uma troca de experiências sobre novas oportunidades de financiamento voltadas à conservação do bioma.
Para Julio Sampaio, coordenador executivo de programas do CIFOR-ICRAF no Brasil, é fundamental ampliar e diversificar os recursos financeiros destinados à conservação do Cerrado , com atenção especiala organizações da sociedade civil e de povos e comunidades tradicionais.
Como exemplo de oportunidade de financiamento, Daniel Soeiro, representante do BNDES, apresentou o Edital Floresta Viva 2025, uma iniciativa de apoio a projetos de restauração ecológica com espécies nativas e sistemas agroflorestais (SAFs), incluindo atividades de conservação em diferentes biomas brasileiros, entre eles, o Cerrado.
Um bioma vital para o Brasil e a América do Sul
O Cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul e, segundo informações do Ministério do Meio Ambiente, ocupa 23,3% do território brasileiro. O bioma éumhotspot de savana, ou seja, uma área de reserva de biodiversidade criticamente ameaçada de destruição. Conhecido como o “berço das águas”, é no Cerrado que estão as nascentes das três maiores bacias hidrográficas da América do Sul: Amazônica/Tocantins, São Francisco e Prata.Além de regular o clima e armazenar carbono em seus solos profundos, o território é lar de cerca de 25 milhões de habitantes, entre eles, milhares de povos e comunidades tradicionais que dependem diretamente de seus ecossistemas para a manutenção de seus modos de vida. Ainda assim, permanece um dos biomas menos protegidos e mais ameaçados do continente, e sua conservação não é suficientemente financiada por fundos internacionais, públicos e privados.
Atualização do Perfil Ecossistêmico do Cerrado: resultados preliminares
Um levantamento preliminar conduzido pela equipe responsável pela atualização do Perfil Ecossistêmico do Cerrado revelou a baixa representatividade do bioma no financiamento ambiental nacional e internacional.
Criado pela Lei nº 7.797/1989, o Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA) tem como objetivo apoiar projetos voltados ao uso racional e sustentável dos recursos naturais, com recursos não reembolsáveis. Entre 1990 e 2025, o Fundo apoiou 1.496 projetos, mas apenas 128 foram destinados ao Cerrado. Dos R$ 298 milhões investidos em áreas prioritárias, o bioma recebeu apenas R$ 33 milhões.

Outro grande desafio apontado pelos pesquisadores é a dificuldade para a criação de novas Unidades de Conservação nesta porção territorial do Brasil onde o agronegócio avança rapidamente. “Ainda que terras indígenas e territórios quilombolas tenham melhores resultados em conservação, eles estão sofrendo ameaças. Talvez a gente pudesse ter uma performance ainda melhor se houvesse mais financiamento”, pondera a pesquisadora Ana Cristina Barros.
Um guia estratégico para investimentos futuros
O Perfil Ecossistêmico do Cerrado, publicado em 2016, descreve as prioridades e ações estratégicas de conservação para o bioma e orientará e servirá de base para o Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos (CEPF, na sigla em inglês) em sua segunda fase de investimentos (2025–2030), voltada a organizações da sociedade civil que atuam pela conservação da biodiversidade.
O CIFOR-ICRAF é a organização responsável por atualizar o Perfil, a partir de novas evidências científicas e oficinas de escuta à sociedade civil. A Rede Cerrado é parceira da instituição neste processo.
O Perfil é considerado estratégico para orientar os investimentos do CEPF em projetos de conservação da biodiversidade e uso sustentável nos próximos anos. O CEPF é uma iniciativa global que concede subsídios à sociedade civil organizada para proteger os hotspots de biodiversidade do mundo. Seu objetivo é fortalecer a capacidade da sociedade civil para gerir e proteger ecossistemas de importância global.
Para obter mais informações sobre esta pesquisa, entre em contato com Julio Sampaio em j.sampaio@cifor-icraf.org








